domingo, 22 de maio de 2011

Cruzadas.

Entender o que foram as Cruzadas não é difícil se partirmos inicialmente do entendimento de seu próprio nome. Seu nome deriva da palavra "cruz", que indica o martírio de Jesus Cristo carregando-a e sendo nela pregado, até morrer de maneira lenta e dolorosa. Durante a Idade Média, a Igreja transformou a cruz no símbolo do cristianismo. Assim, as Cruzadas foram expedições organizadas pela Igreja para levar o cristianismo para outros povos, que não seguiam essa religião.


Indumentárias típicas dos cruzados. O da direita é um "hospitalar", padre que lutava e tratava feridos.

No entanto, para impor essa cruz, ou a fé em Cristo, para ou praticantes de outras religiões, não adiantava usar somente a palavra. Para povos que oferecessem resistência, a palavra seria de pouca serventia. Assim, a força armada era o principal elemento dessas expedições, que se denominavam também de "Guerra Santa".


Soldados cruzados executando "infiéis". Percebam Cristo em detalhe, ao lado dos guerreiros.

A principal justificativa das Cruzadas foi reconquistar territórios perdidos para os inimigos da fé católica, ao mesmo tempo trazendo novos povos e regiões ao domínio da Igreja. Assim, a primeira Cruzada partiu em 1096, convocada pelo papa Urbano II, para Jerusalém, no Oriente Médio, região do nascimento de Jesus, considerado lugar sagrado pelos cristãos.



"INFIEIS" NA TERRA SANTA:


Jerusalém estava sob domínio árabe desde o século VIII, ainda pelos califas "rashidun". Porém, quando foi dominada pelos turcos, o cristianismo foi proibido na chamada "Terra Santa". Essa primeira Cruzada durou três anos: percorreu grande parte do continente europeu e, atravessando parte do mar Mediterrâneo, chegou a Jerusalém por terra.



Ao longo de mais de 200 anos, entre os séculos XI e XII, foram realizadas oito Cruzadas. A mais longa durou seis anos e a mais curta, apenas um. No decorrer desse período, as Cruzadas foram desfazendo o isolamento em que a Europa se metera na Alta Idade Média, e reativando cada vez mais o trânsito por mar, chegando, inclusive, a retomar o contato com o continente africano.

Essas expedições em busca de novas terras atraíam milhares de pessoas. Havia um forte elemento religioso que motivava essas pessoas a virarem os "soldados de Deus". Ao atribuir às Cruzadas o caráter de "Guerra Santa" e considerá-las sagradas, a Igreja católica prometia aos seus soldados um lugar no Paraíso, depois de sua morte. Mas, além da justificativa religiosa, o interesse econômico de atacar outros povos, invadir suas cidades e saquear suas riquezas, era certamente algo interessante para os cavaleiros que marchavam nas Cruzadas.



Comitiva nobre bizantina em visita ao castelo de Balduíno, rei cristão de Jerusálem.


UMA CRUZADA PARALELA (DOS MENDIGOS):

Assim, mais do que empreendimentos exclusivamente espirituais, as Cruzadas foram financiadas tanto pela Igreja, como pelos nobres e por ricos comerciantes, como um negócio ou investimento. Por outro lado, uma legião de miseráveis acabou se juntando à primeira delas, e compôs uma Cruzada paralela, não oficial, que chegou a ser condenada pelo Papa.

Isso ocorreu entre 1096 e 1099. Assim, essa primeira expedição oficial que rumava para Jerusalém, a fim de reconquistar a terra ocupada pelos turcos, foi copiada por uma expedição de pobres e miseráveis, que também queria seu lugar no céu, bem como riquezas na Terra. No entanto, essa "Cruzada paralela", organizada por Pedro, o Eremita, que conseguiu juntar 50 mil fiéis, foi aniquilada ao chegar em Constantinopla. A Cruzada dos Miseráveis é sarcasticamente retratada nos filmes de "Brancaleone", um ícone do humor histórico.


Representação da Cruzada dos Mendigos em Brancaleone.


Capas dos dois geniais filmes italianos do pseudo-cavaleiro Brancaleone (1966).

Já a Cruzada oficial, financiada pela nobreza e comandada por Godofredo de Bouillon, contou com 100 mil homens soldados e terminou com um final feliz para os cruzados: eles conseguiram não só reconquistar Jerusalém, como também a tomar a terra dos turcos.


Godofredo de Bouillon chegando em Jerusálem

Recomendo o filme "Cruzada" (Kingdom of Heaven) para melhor compreensão do fato, especialmente o fim da primeira cruzada e a reconquista turca através do sultão Saladino.



Capa original do filme Cruzada (2005).


SALADINO E RICARDO CORAÇÃO DE LEÃO:

Quase 50 anos depois, Jerusalém foi reconquistada pelos turcos e a Igreja teve nova justificativa para empreender uma outra Cruzada. Assim, entre 1147 e 1149, ocorreu a Segunda Cruzada, financiada por nobres franceses e germânicos. No entanto, essa campanha resultou num grande fracasso para os europeus.


A vitória de Saladino.

Quatro décadas se passaram, quando se resolveu empreender mais uma expedição militar à Terra Santa. Essa Terceira Cruzada, ocorrida entre 1189 e 1192, mais do que ter financiamento dos nobres, teve a presença dos reis de três dos principais reinos daquele período: da França, com Felipe Augusto; da Inglaterra, com Ricardo Coração de Leão, e do reino germânico, com Frederico Barba Ruiva.

Apesar disso, a expedição também foi derrotada militarmente. O Barba Ruiva morreu antes de chegar ao campo de combate, ainda que Ricardo Coração de Leão tenha conseguido um acordo com Saladino, o que permitiu aos cristãos pelo menos o direito de rezarem desarmados em Jerusalém.



VENEZIANOS E CRIANÇAS (A CRUZADA DAS CRIANÇAS OU DOS INOCENTES):

As demais Cruzadas não foram expressivas pelo sucesso de sua missão religiosa, mas por outros motivos. Assim, a Quarta Cruzada, realizada entre 1201 e 1204, que foi financiada pelos comerciantes de Veneza, trouxe grandes benefícios a seus organizadores, pois submeteu povos da Grécia e os bizantinos aos tratados comerciais venezianos.

Em 1212, houve uma Cruzada bastante curiosa, não reconhecida pela Igreja católica, organizada por um menino de 12 anos, chamado Estevão de Cloyes. Este garoto conseguiu juntar com ele mais 30 mil jovens, que acreditavam que o Mar Mediterrâneo se abriria para eles chegarem até o Oriente Médio. Muitos comerciantes e proprietários de navios se interessaram por essa Cruzada, prometendo transportar as crianças para a Terra Santa. Na verdade, o que fizeram foi vendê-los como escravos nas cidades pelas quais passavam. Podemos interpretar também que essa cruzada foi uma estratégia para reduzir a crise de fome que assolava parte da Europa, enviando crianças das classes baixas, muitas órfãs, as principais vítimas da crise.



Representações da Cruzada das Crianças (dos Inocentes).


ÚLTIMAS CRUZADAS:


Todas as outras Cruzadas foram fracassos militares: tanto a Quinta, organizada entre 1217 e 1221, quanto a Sexta, realizada entre 1228 e 1229. Esta última foi condenada pelo Papa, pois seu líder, Frederico II, Imperador do Sacro Império Germânico passou por cima da autoridade papal, fazendo acordos diplomáticos com os egípcios.
Finalmente, com quase 30 anos de distância uma da outra, a Sétima e a Oitava Cruzadas foram realizadas pelo rei francês Luiz 9º. Este rei, tratado com um santo pela Igreja católica, foi feito prisioneiro pelos seus inimigos durante a Sétima Cruzada (que durou 6 anos, entre 1248 a 1254). Na Oitava e última Cruzada, que durou apenas um ano, em 1270, o final da expedição foi ainda pior. A maior parte dos cruzados, inclusive Luiz IX, acabou morrendo de peste antes de chegar à Terra Santa. Como pudemos ver, as Cruzadas envolveram interesses e crenças de diversos grupos sociais da Idade Média. Pobres, vagabundos, crianças sem perspectiva; nobres poderosos, influentes reis em busca de expansão de seus poderes; ricos comerciantes dispostos a estabelecerem novas rotas de comércio. Todos essas pessoas, com seus projetos e intenções fizeram parte das expedições religiosas e armadas, idealizadas pela Igreja católica para ampliar o domínio do cristianismo no mundo.


CONSEQUÊNCIAS DAS CRUZADAS:


Os objetivos militares iniciais das Cruzadas não foram conquistados, mas esse evento provocou uma séria mudança no contexto econômico e cultural europeu. O contato dos cruzados com certos produtos orientais, como raízes medicinais, perfumes, temperos, as chamadas "especiarias", estimulou o renascimento do comércio na Europa, reativando antigas rotas comerciais do Mediterrâneo e proporcionando o surgimento de núcleos comerciais e vilarejos de comerciantes, os chamados burgos, base da burguesia, classe responsável pelas grandes alterações políticas e econômicas da Idade Moderna para a Idade Contemporânea. As cidades-estado italianas de Gênova, Veneza e Florença foram muito beneficiadas com o comércio de produtos orientais. O enriquecimento da burguesia dessas cidades favoreceu o Renascimento Cultural e Científico delas, que tornaram-se os grandes centros irradiadores dessas novas ideias.


CONFIRA ESSA PRODUÇÃO DO HISTORY CHANNEL:

PRIMEIRA CRUZADA:
PARTE 1:


PARTE 2:


PARTE 3:


PARTE 4:


PARTE 5:


PARTE 6:


PARTE 7:



SEGUNDA CRUZADA:
PARTE 1:


PARTE 2:


PARTE 3:


PARTE 4:


PARTE 5:


PARTE 6:


PARTE 7:

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