domingo, 27 de fevereiro de 2011

Egito Antigo.

Tema frequente dos meios de comunicação, recentemente ainda mais devido a série de revoltas populares que resultaram na deposição do ditador Hosni Mubarak, após 30 anos no poder, o Egito é um país geralmente associado a descobertas arqueológicas da era anterior a Cristo. No imaginário do mundo atual, é o país das pirâmides, das múmias, da sedutora rainha Cleópatra e do caudaloso rio Nilo.

De fato, a civilização que se desenvolveu no Egito, numa antiguidade muito remota, é surpreendente no que se refere principalmente a seus aspectos culturais, incluindo-se aí a escrita (hieroglífica - sagrada; hierática - burocrática; demótica - popular), a pintura, a escultura, a arquitetura e a mitologia.

Porém, para se compreender o desenvolvimento cultural do antigo Egito, é preciso conhecer também as condições sociais e econômicas em que ele ocorreu. Do mesmo modo, é necessário considerar também uma questão geográfica, pois, como disse Heródoto, "o Egito é uma dádiva do Nilo".

ÀS MARGENS DO NILO:
Hoje, no início do século 21, o Egito conta com mais de 70 milhões de habitantes, sendo o mais populoso dos países de cultura árabe. E, exatamente como na Antiguidade, a maioria de sua população está concentrada em apenas 4% do território, às margens do rio Nilo.

Por se localizar numa região desértica - o nordeste da África -, o Egito sempre teve a sua vida ligada às águas desse rio e aos seus períodos de cheia, durante os quais o solo das margens é fertilizado, tornando possível o desenvolvimento de uma agricultura capaz de sustentar enormes contingentes populacionais. Por esse motivo, na Antiguidade o Egito era conhecido como o "Celeiro do Oriente".

Imagem aérea do Nilo, praticamente um óasis no deserto.


Nos últimos séculos do 5º milênio a. C., com o processo de desertificação do norte da África e a formação do deserto do Saara, as populações nômades e seminômades da região foram atraídas para as margens do rio Nilo. A ocupação da bacia do Nilo ocorreu a partir da migração sucessiva de tribos vindas das regiões da Líbia (a oeste), da Etiópia (a leste) e da Palestina (no Oriente Médio), que acabaram formando a população egípcia.

Essas populações fixaram-se em aldeias agrícolas, que aos poucos formaram pequenas cidades-Estado, chamadas nomos, administradas pelos nomarcas, a primeira elite egípcia.

Como a agricultura era difícil - tanto por causa do deserto, quanto por causa da sazonalidade do rio Nilo -, esses nomos acabaram se unindo com o passar do tempo (não se conhece a data precisa), dando origem a dois reinos: o do Norte (Baixo Egito) e o do Sul (Alto Egito).

De acordo com a tradição, o rei Menés teria unificado ambos os reinos por volta do ano 3.000 a.C., tornando-se o primeiro faraó (título do rei egípcio), ou como se dizia na época "o senhor das duas terras", inaugurando assim a primeira dinastia do Egito.

A unificação garantiu a centralização política e administrativa dos vários nomos egípcios, o que facilitou a organização eficaz do trabalho da sociedade nas obras públicas, para manter o controle das águas e a construção de sistemas de irrigação do solo, garantindo a ampliação da agricultura e da pecuária, levando ao crescimento das cidades.
A partir de então, os nomos passaram a ser unidades administrativas dentro do Egito, englobando várias cidades, e os nomarcas passaram a se subordinar diretamente ao faraó.

Principais nomos egípcios

A civilização egípcia desenvolveu-se às margens do rio Nilo, ocupando uma faixa de terra cuja largura media entre 10 e 20 quilômetros e que se estendia por cerca de mil quilômetros. Era extremamente dependente do rio, tanto para a manutenção das atividades agrícolas e a pecuária, como para o transporte de mercadorias e comunicação entre as diversas cidades. Tão apropriada era a navegação entre as várias regiões banhadas pelo Nilo, que os egípcios não precisaram construir estradas.

DIQUES E RESERVATÓRIOS DO NILO/ECONOMIA:
O controle das cheias do rio foi condição essencial para o desenvolvimento da civilização na região, pois o seu leito não era suficiente para conter as águas que corriam do interior da África em direção ao mar Mediterrâneo, inundando a região entre julho e setembro. Assim, às margens do Nilo foram construídos diques e reservatórios, a fim de reter as águas que seriam utilizadas - por meio de canais de irrigação - no tempo de escassez das chuvas para a agricultura, a pecuária e o consumo humano.

Com o retorno das águas ao leito do rio (entre dezembro e maio), ficava armazenado nas margens um precioso fertilizante, o húmus, que permitiu o surgimento de uma agricultura de alta produtividade. O húmus, um fertilizante natural de cor escura, era tão essencial aos egípcios, que esse povo chamava sua região de Kemet, "terra negra", em oposição às terras vizinhas, chamadas de Deshret, "terra vermelha", ou seja, o deserto.

Segundo os historiadores G. Moktar e J. Vercoutter, a "experiência logo ensinou os egípcios a desconfiar da inconstância do rio. Para compensar a escassez periódica, era necessário estocar cereais para alimentar a população e - mais importante ainda - garantir quantidade suficiente de sementes para a semeadura seguinte, quaisquer que fossem as circunstâncias.

Representação das tecnologias de plantio nas margens do Nilo.

"Esses estoques de reserva eram fornecidos pelo governo central, graças ao duplo celeiro real, que estocava cereais em armazéns distribuídos por todo o país. Limitando o consumo em períodos de abundância e estocando o máximo possível para se precaver contra cheias insuficientes ou excessivas, o governo central passou a controlar, por assim dizer, a ordem natural e veio a desempenhar um papel muito importante."

A alta produtividade agrícola e o controle populacional permitiram que houvesse disponibilidade de recursos e de mão de obra, o que viabilizou a construção das pirâmides e dos palácios, o desenvolvimento do artesanato, da ourivesaria e as guerras de expansão.

Ao contrário do que comumente se pensa, a mão de obra utilizada em tais obras gigantescas era de camponeses livres, não de escravos. Apesar de a escravidão existir no Egito, era em pequena escala. O Estado egípcio submetia a população a uma forma de exploração chamada de "corveia real" ou "servidão real", ou seja, apesar de os trabalhadores serem homens livres, deviam, de tempos em tempos, prestar trabalho gratuito nas obras estatais, como forma de tributo.

A produção agrícola era diversificada: trigo, cevada, ervilha, cebola, linho, tâmaras, diversas árvores frutíferas, além da pecuária (bois, ovelhas, porcos, cabras). Os egípcios desenvolveram também a caça e a pesca: a primeira realizada nos pântanos e no deserto e a segunda praticada no Nilo, nos reservatórios e canais de irrigação.

Arado bovino.

ARTES E CULTURA:
O artesanato era muito importante. Utilizaram o linho e o couro de animais, confeccionaram cerâmicas e durante largo tempo não houve separação entre agricultores e artesãos: como o ciclo agrícola era de seis meses (plantio e colheita), o restante do tempo era aproveitado nas atividades artesanais, na construção e conservação dos canais de irrigação e dos reservatórios e na construção das obras públicas.

O papiro era abundante às margens do Nilo. As fibras da planta foram usadas para fazer embarcações, redes e cordas, mas acabaram tendo enorme importância quando utilizadas como matéria-prima para fazer papel. De acordo com o historiador J. Yoyotte, o "cultivo intensivo do papiro provavelmente contribuiu para o desaparecimento dos pântanos - refúgio dos pássaros, crocodilos e hipopótamos que, na opinião dos próprios antigos, davam brilho à paisagem egípcia".

Realizada pelos escribas, a transcrição nos papiros de fatos da história, do dia a dia do governo e das questões religiosas acabou se transformando em importante fonte histórica para a reconstrução da civilização egípcia, depois que os arqueólogos modernos conseguiram decifrar os hieróglifos.

Na pintura, a Lei da Frontalidade era padrão na maioria das manifestações artísticas, expondo sempre o tronco de frente mas a cabeça e pés de perfil, valorizando certos aspectos do indivíduo.

Exemplo da Lei da Frontalidade.

Na arquitetura, temos as pirâmides, túmulos faraônicos, como principal monumento, mas o cuidado estético também estava em detalhes dos prédios públicos, através dos capiteis em homenagem a vegetação típica do Nilo (Lótus, Papiros, Palmeiras), e dos baixo-relevos.

As três grandes pirâmides de Queóps, Quéfrem e Miquerinos.


Exemplos dos capiteis utilizados na arquitetura egípcia.

Na escultura, a postura hierática e o equilíbrio eram valorizados, chegando a inspirar os primórdios da arte clássica grega.

Típica estátua faraônica.

DIVISÃO SOCIAL:
Nos 3 mil anos do Egito dos faraós, a estrutura social pouco se alterou. Na base estavam os escravos, quase todos de origem estrangeira e em número reduzido, mas principalmente os camponeses livres, a maioria da população, que viviam nas aldeias e tinham de pagar diversos tributos ao Estado e aos templos.

Havia uma camada intermediária representada pelos artesãos urbanos. A classe dominante era formada pelo faraó - adorado como um deus e exercendo também o poder militar, civil e judiciário - e sua família, pelos sacerdotes, militares e altos funcionários do Estado, dentre eles os escribas e os nomarcas.

De acordo com o filósofo e historiador das religiões Mircea Eliade, para os egípcios a ordem social representava um aspecto da ordem cósmica. Assim, a realeza existiria desde o começo do mundo, pois o "Criador foi o primeiro Rei; ele transmitiu esta função ao filho e sucessor, o primeiro Faraó. Essa delegação consagrou a realeza como instituição divina".

TRÊS IMPÉRIOS:
A história política do Egito se divide em três grandes blocos chamados de Impérios, separados por períodos de crise, chamados de Períodos Intermediários.

O primeiro é o Antigo Império, caracterizado pela edificação das grandes pirâmides (as de Guisé), pelo crescimento da produtividade agrícola, pelo desenvolvimento das grandes construções (templos e palácios) e da ciência (matemática, medicina). Apesar da prosperidade, não houve ampliação do território, excetuando-se uma expedição ao sul, que conquistou parte da Núbia, reino que também vivia às margens Nilo.

São desconhecidas as razões que levaram ao fim do poder central por quase 50 anos, mas sabemos que ocorreram períodos de fome, provavelmente vinculados à diminuição das cheias do Nilo. Devem também ter ocorrido revoltas de camponeses contra o pagamento de tributos ao Estado.

Em torno de 2100 a.C., foi restabelecido o poder central: é o período do Médio Império. Ampliou-se a autoridade do Estado, aumentou a produção agrícola e foram construídas diversas obras de irrigação.

Por volta de 1640 a.C., o Egito foi conquistado pelos hicsos - povo de origem asiática -, que permaneceram 90 anos dominando a região. Era um povo guerreiro, hábil no uso de cavalos e do carro de guerra. Os hicsos trouxeram diversas inovações, principalmente no que se refere ao uso do bronze, que era desconhecido dos egípcios.

O período mais importante e mais conhecido do Egito Antigo é o Novo Império (1550-1076 a.C.). Foi o momento da expansão para a Ásia e da conquista da Palestina, Síria e Fenícia, chegando até o rio Eufrates, na Mesopotâmia.

Controlando o corredor sírio-palestino, criou-se um obstáculo às invasões dos povos asiáticos, que usava essa passagem para invadir o Egito pelo istmo de Suez. Isso facilitou o controle das rotas comerciais que passavam pela região e ampliou a cobrança de tributos.

A criação de um império na Ásia levou à formação de um exército permanente, em grande parte formado por mercenários líbios e núbios, e à utilização de novas armas, como a espada e os carros de guerra.

ESPLENDOR E DECLÍNIO DO IMPÉRIO EGÍPCIO:
Durante o Novo Império intensificou-se o comércio externo com as ilhas de Creta e Chipre, no mar Mediterrâneo, e com a Fenícia; ampliou-se a máquina burocrática do Estado; e foram edificadas novas pirâmides e palácios, em grande parte com os recursos espoliados dos povos dominados. Somente Thutmés 3º (1469-1436), em uma de suas 17 expedições militares, trouxe como butins de guerra centenas de prisioneiros, 924 carros, 2.238 cavalos, 44 mil cabeças de gado e 200 quilos de ouro.

Os faraós tiveram enormes dificuldades em manter as conquistas na Ásia e o domínio da Núbia. Ocorreram rebeliões dentro do império, pressões nas fronteiras de povos atraídos pela riqueza do Egito e problemas internos devido ao crescimento da população (o aumento do número de habitantes por quilômetro quadrado gerou períodos de fome).

No século 7 a.C., Assurbanipal, rei dos assírios (povo da Mesopotâmia), ocupou o Egito, mas logo foi expulso. A invasão, porém, foi uma demonstração da fraqueza interna do império, apesar das reformas realizadas no Renascimento Saita (séculos 7 a 6 a.C.).

Ainda na Antiguidade, no século 6 a.C., o Egito perdeu a independência. Em 525 a.C., Cambises, imperador da Pérsia, invadiu e ocupou o Egito, que se manteve como satrapia persa por 200 anos. Os persas introduziram o camelo, que se adaptou bem à região e possibilitou o contato mais frequente com os oásis a oeste do rio Nilo.

Em 332 a.C., Alexandre Magno, da Macedônia, que já tinha conquistado a Grécia, a Ásia Menor, a Palestina e a Fenícia, também ocupou o Egito. Vinte e oito anos depois, seus herdeiros deram origem à dinastia dos Ptolomeus ou Período Ptolomaico, que se estendeu até 30 a.C., quando os romanos, liderados por Otávio Augusto, invadiram e ocuparam o Egito, destronando Cleópatra e Marco Antônio.

O PAPEL DA RELIGIÃO:
A vida dos egípcios estava marcada pela religião e seus deuses. Segundo a mitologia egípcia, o deus Osíris ensinou a agricultura aos seres humanos, mas acabou traído e morto pelo irmão e rival Seth. Ísis, sua mulher, convenceu os outros deuses a trazer de volta Osíris para a Terra: era ele que julgava os egípcios depois que estes morriam; ouvia a defesa de cada um e, depois de pesar o coração do indivíduo - para saber se estava mentindo ou não -, decidia pela sua inocência ou culpa, permitindo o retorno da sua alma para o corpo mumificado.

Representação do Tribunal de Osíris em um sarcófago.

A crença em uma vida após a morte acompanhava o egípcio durante toda a sua existência. Dessa forma, a construção de grandes túmulos, onde estavam acumulados tesouros e objetos de uso pessoal do morto, servia para que, depois da vida, ele mantivesse a mesma condição material.

O deus Anúbis velando de uma múmia, e um exemplo de múmia em um museu europeu.

Segundo o egiptólogo A. Abu Bakr, "a crença no além foi sem dúvida favorecida e influenciada pelas condições geográficas do Egito, onde a aridez do solo e o clima quente asseguravam uma notável conservação dos corpos após a morte, o que deve ter estimulado fortemente a convicção de que a vida continuava no além-túmulo".

O politeísmo da religião egípcia foi brevemente interrompido pela instituição do monoteísmo pelo faraó Amenófis 4º (1380-1362 a.C.), que mudou seu nome para Akenaton e divulgou o culto ao deus Aton. Além de razões religiosas, o faraó também pretendia diminuir os poderes do clero, enriquecido pelo pagamento de tributos, e que exercia enorme influência política.

Akenaton fundou uma nova capital, perseguiu os sacerdotes inimigos de sua reforma, mas não conseguiu obter apoio popular. Após a sua morte, os antigos sacerdotes conseguiram convencer seu filho/sucessor, Tutancaton, a restabelecer o politeísmo. Com o retorno do velho panteão, o faraó mudou o nome para Tutancamon.

Máscara mortuária de Tutancamon.

CRONOLOGIA:
  • Período Pré-dinástico: 3300 - 3000 (dois reinos)
  • Período Protodinástico: 3000 - 2670 (1ª e 2ª dinastias)
  • Antigo Império: 2670 - 2150 (da 3ª até a 6ª dinastia)
  • I Período Intermediário: 2150 -2100 (desintegração da unidade política)
  • Médio Império: 2100 - 1750 (11ª e 12ª dinastias)
  • II Período Intermediário: 1750 - 1550, sendo que de 1640 até 1550 os hicsos controlaram o Egito (15ª e 16ª dinastias) - reação de Tebas (17ª dinastia)
  • Novo Império: 1550 - 1076 (da 18ª até a 20ª dinastia)
  • III Período Intermediário: 1076 - 712 (da 21ª até a 24ª dinastia) - período do controle núbio sobre o Egito.
  • Época Tardia: 712 - 332 (da 25ª até 30ª dinastia)
  • Período Ptolomaico: de 332 a.C. até 30 d.C.


COMPLEMENTE COM O SEGUINTE DOCUMENTÁRIO DO HISTORY CHANNEL:

PARTE 1:


PARTE 2:


PARTE 3:


PARTE 4:


PARTE 5:


PARTE 6:


PARTE 7:


PARTE 8:


PARTE 9:


PARTE 10:

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Maçonaria no Brasil.

Trata-se de uma associação semi-secreta, difundida no mundo todo, que adota os princípios de fraternidade e da filantropia entre seus membros. Seus membros afirmam que foi fundada ainda no Egito Antigo, responsáveis pela construção de grandes obras de todas as eras, como também fizeram parte dos Templários medievais, combatidos pela Igreja Católica. Porém, segundo pesquisas, tal associação surgiu em meados do século XVI, na Inglaterra, ou durante a Revolução Francesa, como fruto da união entre alguns intelectuais e trabalhadores da construção civil: engenheiros, arquitetos, pedreiros. A maçonaria discrimina as mulheres, sendo composta principalmente por profissionais liberais, que se iniciam através de rituais incluindo juramentos de fidelidade (com o iniciante - neófito - vestido como um herege julgado pela Inquisição) e uma série de simbolismos, onde a moral, a fraternidade e a retidão são representadas pelo livro sagrado, pelo compasso e pelo quadrado, além da presença de colunas em alusão ao palácio de Salomão (teoricamente construído por pioneiros maçons) e pisos negros e brancos, como um xadrez, lembrando que a alma humana é formada por sentimentos positivos e negativos, indissociáveis, nos seus templos.

Alguns dos símbolos maçônicos e os trajes de cerimoniais de um neófito (iniciante).

No cotidiano os maçons se comunicam através de sinais secretos, senhas e cumprimentos especiais. A maçonaria não é uma seita religiosa, embora o único obstáculo para aceitação de um novo membro seja o ateísmo, já que os maçons professam a crença em um ser supremo de características racionais, o GAU (Grande Arquiteto do Universo). Ela é supra-religiosa, pois são aceitos cristãos, judeus, muçulmanos, budistas e qualquer homem de fé.

Desde a crise do Antigo Sistema Colonial, a maçonaria está presente em nossa história, destacando-se inicialmente, entre alguns revolucionários da Inconfidência Mineira e da Conjuração Baiana no final do século XVIII. Nesse período que antecede a Independência, a maçonaria assumiu uma posição avançada, representando um importante centro de atividade política, para difusão dos ideais do liberalismo iluminista anticolonialista. Sua influência cresceu consideravelmente durante o processo de formação do Estado Brasileiro, onde apareceu como uma das mais importantes instituições de apoio à independência, permanecendo atuante ao longo de todo período monárquico no século XIX. Nesse processo, a história do Brasil Império é também a história da maçonaria, que vem atuando na política nacional desde os primeiros movimentos de independência, passando pelos irmãos Andradas no Primeiro Reinado, até as mais importantes lideranças do Segundo Império, no final do século XIX, e nos círculos políticos do Movimento Republicano, junto aos positivistas do Exército.


Alguns dos símbolos mais famosos da maçonaria presentes nas notas de dólar americano: A Pirâmide e o Olho Que Tudo Vê.

Apesar da maçonaria estar presente no Brasil desde a Inconfidência Mineira no final do século XVIII, a primeira loja maçônica brasileira surgiu filiada ao Grande Oriente da França, sendo instalada em 1801 no contexto da Conjuração Baiana. A partir de 1809 foram fundadas várias lojas no Rio de Janeiro e Pernambuco e em 1813 foi criado o primeiro Grande Oriente Brasileiro sob a direção de Antonio Carlos Ribeiro de Andrada e Silva. A lusofobia (aversão aos portugueses) tão presente nos movimentos de emancipação, também caracterizava a maçonaria brasileira, que desde seus primórdios não aceitava se submeter ao Grande Oriente de Lisboa. Como em toda América Latina, no Brasil a maçonaria também se constituiu num importante veículo de divulgação dos ideais do Iluminismo e de independência, sendo que em maio de 1822 se instalou no Rio de Janeiro o Grande Oriente Brasiliano ou Grande Oriente do Brasil, que nomeou José Bonifácio de Andrada e Silva o primeiro grão-mestre da maçonaria do país.


Encontro de maçons

Com D. Pedro I no poder, o Grande Oriente do Brasil foi fechado, ressurgindo apenas com a abdicação do imperador em 1831, tendo novamente José Bonifácio como grão-mestre. Nesse mesmo ano ocorre a primeira cisão na maçonaria brasileira, quando o senador Vergueiro funda o Grande Oriente Brasileiro do Passeio, nome referente à rua do Passeio, no Rio de Janeiro. A divisão enfraqueceu a maçonaria, que começou a perder influência no quadro político do Império brasileiro. Essa situação agravou-se em 1864, quando o papa Pio XI, através da bula Syllabus, proibiu qualquer ligação da Igreja com essa sociedade. No contexto de crise do Império brasileiro, esse quadro tornou-se mais crítico em 1872, quando durante uma festa em comemoração à lei do Ventre-Livre, o padre Almeida Martins negou-se a abandonar a maçonaria, sendo suspenso de sua atividade religiosa pelo bispo do Rio de Janeiro. Essa punição tinha sido antecedida por um discurso feito pelo padre Almeida Martins na loja maçônica Grande Oriente, no qual o religioso exaltou a figura do visconde do Rio Branco, que, além de primeiro-ministro, era grão-mestre da maçonaria. Neste processo, o bispo de Olinda, D. Vital e o de Belém, D. Macêdo determinam o fechamento de todas irmandades que não quiseram excluir seus associados maçons. A reação do governo foi rápida e enérgica, quando em 1874, o primeiro-ministro, visconde do Rio Branco, determinou a prisão dos bispos seguida de condenação a quatro anos de reclusão com trabalhos forçados. Apesar da anistia concedida no ano seguinte pelo novo primeiro-ministro duque de Caxias, a ferida não foi cicatrizada e o Império decadente junto com a maçonaria que o sustentava, perdiam o apoio do clero e da população, constituindo-se num importante fator para queda do obsoleto regime monárquico e para separação do mesmo com a Igreja, formando assim a chamada Questão Religiosa do fim do Império, junto com a Questão Militar e o abolicionismo.


Capa de uma das publicações da Editora Abril com importantes maçons: Winston Churchill, D. Pedro I e George Washington.

No período republicano a maçonaria conseguiu crescer e diversificar suas atividades pelo país, apesar de ter perdido o poder de influência no Estado brasileiro. Nesse final de século, a maçonaria permanece como uma associação, que apesar de defender os princípios de fraternidade (principalmente com ajuda mútua entre membros) e filantropia, exclui, mesmo que de forma não assumida, a participação das camadas sociais menos abastadas entre seus membros.


Fachada da maior Loja Maçônica (templo) do RN, em Candelária, Natal.