domingo, 27 de novembro de 2011

O fim da URSS.

FRACASSO DO PLANEJAMENTO:
Na União Soviética, partir da década de 1970, o planejamento econômico, pilar do regime socialista (por oposição ao livre-mercado) começou a dar sinais de esgotamento. O controle rígido da economia pela burocracia estatal gerou estagnação em vez de crescimento. O Estado determinava o que e quanto produzir, onde comprar matérias-primas, qual o preço das mercadorias e o salário dos trabalhadores.

Os burocratas do partido só se preocupavam em cumprir as metas estabelecidas. A falta de concorrência levava ao desinteresse por um aprimoramento da qualidade dos produtos, bem como não havia motivo para oferecer à população uma grande variedade de bens de consumo - considerados luxos burgueses. Os grandes investimentos se destinavam à indústria bélica, para fazer frente aos Estados Unidos.

Aos poucos, o desabastecimento até de mercadorias de primeira necessidade tornou-se a regra da economia soviética. Ficaram mundialmente famosas as longas filas e os cartões de racionamento para a compra de pão ou leite. Paralelamente, desenvolveu-se um mercado negro e a corrupção começou a se generalizar no governo do país, cujas lideranças gozavam de privilégios e mordomias.

PERESTROIKA E GLASNOST:

Gorbatchev, criador da Glasnost e da Perestroika.

Nesse pano de fundo, em 1985, subiu ao poder Mikhail Gorbatchev, aos 54 anos de idade. Tratava-se de um governante muito jovem pelos padrões da burocracia soviética. Tratava-se também de um político que via necessidades de reformas para evitar o colapso de seu país.

Gorbatchev procurou promover uma reestruturação ("perestroika", em russo) da economia, desmilitarizando-a e descentralizando-a. Introduziu elementos da economia de mercado na União Soviética, abrindo-a ao capital estrangeiro, promovendo privatizações e fechando empresas deficitárias. Nesse sentido, talvez tentasse repetir a Nova Política Econômica (NEP), com que Lênin, nos anos 1920, reintroduziu elementos capitalistas na economia soviética para preservar o regime.

Ao contrário de seu ilustre antecessor, Gorbatchev promoveu simultaneamente uma abertura política, a que chamou de "glasnost" (transparência, em português). Com ela, restabeleceu-se o pluripartidarismo, aboliu-se a censura, e libertaram-se presos políticos, além de se incentivar a liberalização dos regimes dos países do Leste Europeu, onde a economia planejada também fracassava e a insatisfação popular aumentava dia a dia. Países como Tchecoslováquia, Alemanha Oriental e Romênia aproveitaram tal liberalização para saírem do jugo comunista.

Jovens alemães iniciam a depredação do Muro de Berlim, comemorando a reunificação da Alemanha, enquanto soldados do lado comunista observam, passivamente, as manifestações.

No entanto, as medidas não foram suficientes para reverter a crise econômica do país e Gorbatchev começou a perder popularidade. Aproveitando-se disso, antigas lideranças do Partido Comunista aliados a chefes militares tentaram dar um golpe de Estado em agosto de 1991.

Tanques contra o Kremlim, a tentativa de golpe dos comunistas tradicionalistas contra Gorbatchev.

YELTSIN E RESISTÊNCIA:

Boris Yeltsin, presidente da República Socialista Russa, depois Federação Russa, líder da resistência contra o golpe dos comunistas.

Foi justamente Boris Yeltsin quem assumiu a liderança da população contra o golpe, entrincheirando-se no Parlamento soviético e mostrando-se determinado a resistir da maneira que fosse necessária. Diante dessa inesperada reação popular, os golpistas acabaram por libertar Gorbatchev que retomou o comando da União. Yeltsin, por sua vez, foi eleito presidente da Rússia, a principal das repúblicas soviéticas.

Em momentos de ruptura, o ritmo dos acontecimentos históricos se aceleram: em setembro de 91, a Lituânia, a Estônia e a Letônia se proclamaram independentes da União Soviética. Em dezembro do mesmo ano, a Rússia, a Ucrânia e a Bielo-Rússia (atual Belarus) se reuniram numa Comunidade de Estados Independentes (CEI). Diante disso, na prática a União Soviética não existia mais. Gorbatchev renunciou e declarou a extinção da URSS no último dia do ano.

PRESIDÊNCIA DE YELTSIN:
Yeltsin conseguiu manter-se à frente do governo russo até 1999, mas sua gestão destruiu a imagem heróica de estadista que adquirira com os acontecimentos que puseram fim a URSS. Exerceu o poder de maneira autoritária e populista, não conseguindo resolver os problemas da Rússia: pelo contrário, o país mergulhou no caos econômico e o crime organizado se desenvolveu intensamente.

Enfraquecido no plano político e com a saúde abalada (também devido aos seus excessos alcoólicos que se tornaram notórios), Yeltsin renunciou em 31 de dezembro de 1999, nomeando para seu lugar Vladimir Putin, que governa a Rússia autocraticamente até hoje. Com a garantia de que não seria processado por seus desmandos, o líder da resistência de 1991, desapareceu de cena para entrar na história.


*Adaptação do texto do jornalista Antônio Carlos Olivieri.

domingo, 5 de junho de 2011

Revolução Meiji

Historicamente, o Japão esteve isolado do Ocidente até a chegada das primeiras embarcações mercantilistas portuguesas, em 1542. Esse primeiro contato não teve efeitos positivos, principalmente por causa dos interesses lusitanos em propagar o cristianismo entre os japoneses pela ação dos jesuítas. Na primeira metade do século XVII, o governo nipônico realizou a execução de milhares de cristãos japoneses e determinou o fechamento dos portos.

Entre os séculos XVII e XIX, o Japão era controlado pelo xogum (shogun), uma espécie de primeiro-ministro de poder hereditário que tinha amplos poderes. Além disso, observamos a presença de uma ampla aristocracia (damaios) que exercia o poder local (fragmentado em pequenos feudos chamados "damiôs") através dos samurais (aqueles que servem), uma classe de guerreiros
profissionais, durante muito tempo guardas pessoais do imperador. Inicialmente eram meros coletores de impostos, mas precisaram impor força para enfrentar resistências camponesas, com isso, viraram uma espécie de casta militar japonesa. Os samurais eram extremamente orgulhosos, durante a repressão da dinastia Meiji, muitos praticaram o "seppuku", ou "arakiri", o suicídio honrado, pois não toleravam viver carregando vergonha no caráter. Ao longo do tempo, o domínio da família Tokugawa sob o xogunato (shogunato) acabou desenvolvendo uma frequente disputa de poder com os grandes proprietários.

Representação dos samurais japoneses.


Yoshinaba Tokugawa, o último shogun

A Restauração Meiji tinha como um dos principais objetivos a queda do Shogunato – que mantinha o país em uma forma de governo sob o comando ditatorial e praticamente mergulhado em um sistema feudal – para a concentração de poderes nas mãos do imperador e completar a ocidentalização japonesa sem resistências do conservadorismo aristocrata. O extermínio dos samurais e a vitória sobre os últimos damaios e shoguns, foi representado (com a licença poética típica de Hollywood) no filme "O Último Samurai" de 2003.

O imperador Meiji


Cartaz do filme "O Último Samurai" de 2003.

Porém, com isso, a classe dos samurais, que havia ganhado grandes privilégios e um do status mais invejável dentro da sociedade, perderam tudo o que tinham e muitos se tornaram vagabundos andantes, os chamados "Rurouni".

A partir de 1850, as nações ocidentais passaram a desenvolver estratégias políticas que pressionavam a abertura política e econômica japonesa. Em 1854, sob o comando do almirante Perry, uma esquadra norte-americana impôs a abertura dos portos nipônicos ao mercado mundial. Por meio de sérias ameaças militares, os japoneses foram obrigados a assinar tratados comerciais com diferentes países.


Buscando reagir ao processo de dominação, os japoneses permitiram que seus jovens fossem enviados à Europa e os Estados Unidos para estudarem em universidades voltadas para os campos de ciência e tecnologia. Com o passar do tempo, a população japonesa começou a dominar o conhecimento necessário para a criação de suas primeiras indústrias. Em pouco tempo, esse projeto de modernização também foi seguido pelo campo político, com a chamada Revolução Meiji.

Soldados modernizados (armas de fogo).

Manifestações de cunho nacionalista passaram a se opor ao domínio absoluto do xogunato. Dessa forma, com o apoio do Exército e da Marinha, Mitsuhito, o imperador Meiji, empreendeu uma série de reformas que deram uma nova feição política ao Japão. O antigo poder político dos donos de terra foi substituído por um sistema de prefeituras locais subordinadas ao poder central. Além disso, houve a instalação de um Poder Legislativo formado por um parlamento bicameral.


A partir desse novo momento, as atividades econômicas se voltaram para o desenvolvimento agrícola e a formação de uma consistente indústria de base. Paralelamente, um novo sistema de cobrança tributário permitiu que o governo arrecadasse impostos que ampliaram a realização de investimentos na economia e o incremento de suas forças armadas. A Revolução Meiji está inserida dentro do contexto da Segunda Revolução Industrial, que ampliou a modernização tecnológica comercial, iniciada na Inglaterra no século XVIII, para outras
nações, como Alemanha, França, Itália, Bélgica, EUA e Japão, além de inovar com máquinas de transformação, novas fontes de energia (fósseis, elétrica) e progresso dos transportes e comunicações.

O imperador Meiji recebe o czar russo.

Em pouco tempo, o Japão se transformou em um belo exemplo de modernização nos campos político e industrial para todo o Oriente. Já nos fins do século XIX, os japoneses passaram a integrar o movimento imperialista realizando a dominação de territórios na China, na Coreia e na Ilha de Formosa (atual Taiwan). No início do século XX, a vitória militar contra os russos consolidou o Japão enquanto potência imperialista e principal rival econômica dos Estados Unidos na região do Pacífico.

domingo, 22 de maio de 2011

Cruzadas.

Entender o que foram as Cruzadas não é difícil se partirmos inicialmente do entendimento de seu próprio nome. Seu nome deriva da palavra "cruz", que indica o martírio de Jesus Cristo carregando-a e sendo nela pregado, até morrer de maneira lenta e dolorosa. Durante a Idade Média, a Igreja transformou a cruz no símbolo do cristianismo. Assim, as Cruzadas foram expedições organizadas pela Igreja para levar o cristianismo para outros povos, que não seguiam essa religião.


Indumentárias típicas dos cruzados. O da direita é um "hospitalar", padre que lutava e tratava feridos.

No entanto, para impor essa cruz, ou a fé em Cristo, para ou praticantes de outras religiões, não adiantava usar somente a palavra. Para povos que oferecessem resistência, a palavra seria de pouca serventia. Assim, a força armada era o principal elemento dessas expedições, que se denominavam também de "Guerra Santa".


Soldados cruzados executando "infiéis". Percebam Cristo em detalhe, ao lado dos guerreiros.

A principal justificativa das Cruzadas foi reconquistar territórios perdidos para os inimigos da fé católica, ao mesmo tempo trazendo novos povos e regiões ao domínio da Igreja. Assim, a primeira Cruzada partiu em 1096, convocada pelo papa Urbano II, para Jerusalém, no Oriente Médio, região do nascimento de Jesus, considerado lugar sagrado pelos cristãos.



"INFIEIS" NA TERRA SANTA:


Jerusalém estava sob domínio árabe desde o século VIII, ainda pelos califas "rashidun". Porém, quando foi dominada pelos turcos, o cristianismo foi proibido na chamada "Terra Santa". Essa primeira Cruzada durou três anos: percorreu grande parte do continente europeu e, atravessando parte do mar Mediterrâneo, chegou a Jerusalém por terra.



Ao longo de mais de 200 anos, entre os séculos XI e XII, foram realizadas oito Cruzadas. A mais longa durou seis anos e a mais curta, apenas um. No decorrer desse período, as Cruzadas foram desfazendo o isolamento em que a Europa se metera na Alta Idade Média, e reativando cada vez mais o trânsito por mar, chegando, inclusive, a retomar o contato com o continente africano.

Essas expedições em busca de novas terras atraíam milhares de pessoas. Havia um forte elemento religioso que motivava essas pessoas a virarem os "soldados de Deus". Ao atribuir às Cruzadas o caráter de "Guerra Santa" e considerá-las sagradas, a Igreja católica prometia aos seus soldados um lugar no Paraíso, depois de sua morte. Mas, além da justificativa religiosa, o interesse econômico de atacar outros povos, invadir suas cidades e saquear suas riquezas, era certamente algo interessante para os cavaleiros que marchavam nas Cruzadas.



Comitiva nobre bizantina em visita ao castelo de Balduíno, rei cristão de Jerusálem.


UMA CRUZADA PARALELA (DOS MENDIGOS):

Assim, mais do que empreendimentos exclusivamente espirituais, as Cruzadas foram financiadas tanto pela Igreja, como pelos nobres e por ricos comerciantes, como um negócio ou investimento. Por outro lado, uma legião de miseráveis acabou se juntando à primeira delas, e compôs uma Cruzada paralela, não oficial, que chegou a ser condenada pelo Papa.

Isso ocorreu entre 1096 e 1099. Assim, essa primeira expedição oficial que rumava para Jerusalém, a fim de reconquistar a terra ocupada pelos turcos, foi copiada por uma expedição de pobres e miseráveis, que também queria seu lugar no céu, bem como riquezas na Terra. No entanto, essa "Cruzada paralela", organizada por Pedro, o Eremita, que conseguiu juntar 50 mil fiéis, foi aniquilada ao chegar em Constantinopla. A Cruzada dos Miseráveis é sarcasticamente retratada nos filmes de "Brancaleone", um ícone do humor histórico.


Representação da Cruzada dos Mendigos em Brancaleone.


Capas dos dois geniais filmes italianos do pseudo-cavaleiro Brancaleone (1966).

Já a Cruzada oficial, financiada pela nobreza e comandada por Godofredo de Bouillon, contou com 100 mil homens soldados e terminou com um final feliz para os cruzados: eles conseguiram não só reconquistar Jerusalém, como também a tomar a terra dos turcos.


Godofredo de Bouillon chegando em Jerusálem

Recomendo o filme "Cruzada" (Kingdom of Heaven) para melhor compreensão do fato, especialmente o fim da primeira cruzada e a reconquista turca através do sultão Saladino.



Capa original do filme Cruzada (2005).


SALADINO E RICARDO CORAÇÃO DE LEÃO:

Quase 50 anos depois, Jerusalém foi reconquistada pelos turcos e a Igreja teve nova justificativa para empreender uma outra Cruzada. Assim, entre 1147 e 1149, ocorreu a Segunda Cruzada, financiada por nobres franceses e germânicos. No entanto, essa campanha resultou num grande fracasso para os europeus.


A vitória de Saladino.

Quatro décadas se passaram, quando se resolveu empreender mais uma expedição militar à Terra Santa. Essa Terceira Cruzada, ocorrida entre 1189 e 1192, mais do que ter financiamento dos nobres, teve a presença dos reis de três dos principais reinos daquele período: da França, com Felipe Augusto; da Inglaterra, com Ricardo Coração de Leão, e do reino germânico, com Frederico Barba Ruiva.

Apesar disso, a expedição também foi derrotada militarmente. O Barba Ruiva morreu antes de chegar ao campo de combate, ainda que Ricardo Coração de Leão tenha conseguido um acordo com Saladino, o que permitiu aos cristãos pelo menos o direito de rezarem desarmados em Jerusalém.



VENEZIANOS E CRIANÇAS (A CRUZADA DAS CRIANÇAS OU DOS INOCENTES):

As demais Cruzadas não foram expressivas pelo sucesso de sua missão religiosa, mas por outros motivos. Assim, a Quarta Cruzada, realizada entre 1201 e 1204, que foi financiada pelos comerciantes de Veneza, trouxe grandes benefícios a seus organizadores, pois submeteu povos da Grécia e os bizantinos aos tratados comerciais venezianos.

Em 1212, houve uma Cruzada bastante curiosa, não reconhecida pela Igreja católica, organizada por um menino de 12 anos, chamado Estevão de Cloyes. Este garoto conseguiu juntar com ele mais 30 mil jovens, que acreditavam que o Mar Mediterrâneo se abriria para eles chegarem até o Oriente Médio. Muitos comerciantes e proprietários de navios se interessaram por essa Cruzada, prometendo transportar as crianças para a Terra Santa. Na verdade, o que fizeram foi vendê-los como escravos nas cidades pelas quais passavam. Podemos interpretar também que essa cruzada foi uma estratégia para reduzir a crise de fome que assolava parte da Europa, enviando crianças das classes baixas, muitas órfãs, as principais vítimas da crise.



Representações da Cruzada das Crianças (dos Inocentes).


ÚLTIMAS CRUZADAS:


Todas as outras Cruzadas foram fracassos militares: tanto a Quinta, organizada entre 1217 e 1221, quanto a Sexta, realizada entre 1228 e 1229. Esta última foi condenada pelo Papa, pois seu líder, Frederico II, Imperador do Sacro Império Germânico passou por cima da autoridade papal, fazendo acordos diplomáticos com os egípcios.
Finalmente, com quase 30 anos de distância uma da outra, a Sétima e a Oitava Cruzadas foram realizadas pelo rei francês Luiz 9º. Este rei, tratado com um santo pela Igreja católica, foi feito prisioneiro pelos seus inimigos durante a Sétima Cruzada (que durou 6 anos, entre 1248 a 1254). Na Oitava e última Cruzada, que durou apenas um ano, em 1270, o final da expedição foi ainda pior. A maior parte dos cruzados, inclusive Luiz IX, acabou morrendo de peste antes de chegar à Terra Santa. Como pudemos ver, as Cruzadas envolveram interesses e crenças de diversos grupos sociais da Idade Média. Pobres, vagabundos, crianças sem perspectiva; nobres poderosos, influentes reis em busca de expansão de seus poderes; ricos comerciantes dispostos a estabelecerem novas rotas de comércio. Todos essas pessoas, com seus projetos e intenções fizeram parte das expedições religiosas e armadas, idealizadas pela Igreja católica para ampliar o domínio do cristianismo no mundo.


CONSEQUÊNCIAS DAS CRUZADAS:


Os objetivos militares iniciais das Cruzadas não foram conquistados, mas esse evento provocou uma séria mudança no contexto econômico e cultural europeu. O contato dos cruzados com certos produtos orientais, como raízes medicinais, perfumes, temperos, as chamadas "especiarias", estimulou o renascimento do comércio na Europa, reativando antigas rotas comerciais do Mediterrâneo e proporcionando o surgimento de núcleos comerciais e vilarejos de comerciantes, os chamados burgos, base da burguesia, classe responsável pelas grandes alterações políticas e econômicas da Idade Moderna para a Idade Contemporânea. As cidades-estado italianas de Gênova, Veneza e Florença foram muito beneficiadas com o comércio de produtos orientais. O enriquecimento da burguesia dessas cidades favoreceu o Renascimento Cultural e Científico delas, que tornaram-se os grandes centros irradiadores dessas novas ideias.


CONFIRA ESSA PRODUÇÃO DO HISTORY CHANNEL:

PRIMEIRA CRUZADA:
PARTE 1:


PARTE 2:


PARTE 3:


PARTE 4:


PARTE 5:


PARTE 6:


PARTE 7:



SEGUNDA CRUZADA:
PARTE 1:


PARTE 2:


PARTE 3:


PARTE 4:


PARTE 5:


PARTE 6:


PARTE 7:

domingo, 15 de maio de 2011

Feudalismo

Estudar o feudalismo é conhecer a fundo o modo como viviam as pessoas no período medieval. O feudalismo pode ser definido como um modo de produção, ou seja, a forma pela qual as pessoas faziam produtos necessários à sua sobrevivência. Também é entendido como um sistema de organização social, estabelecendo como as pessoas se relacionavam entre si e o lugar que cada uma delas deveria ocupar na comunidade. O feudalismo consolidou-se a partir do século 8 e teve seu período de maior desenvolvimento até o século 10, como consequência do fim do Império Carolíngio, ruindo as esperanças de reconstruir a unidade europeia, revivendo a época romana. Depois disso, esse modelo de sociedade ainda sobreviveu em alguns reinos europeus até o século 15, no final da Idade Média, como também vestígios dessa organização perduraram até o período absolutista de várias nações.

SERVIDÃO:

A servidão era uma espécie de escravidão mais branda, pois, ainda que os servos não fossem vendidos, estavam obrigados por toda a vida a entregarem produtos e prestarem serviços a seus senhores. Além disso, não eram proprietários das terras em que trabalhavam, pois estas lhes eram "emprestadas" pelos senhores. A servidão era transmitida dos pais para os filhos, assim como os títulos de nobreza também eram hereditários.
Por sua vez, os nobres poderosos eram os chamados senhores feudais. Tinham esse nome em função do tipo de propriedade que possuíam, os feudos. Estes eram extensas propriedades de terras, mantidas isoladas para garantir a proteção das pessoas que ali viviam dos ataques de inimigos externos. Essas unidades eram supridas com uma produção de alimentos quase auto-suficiente, de subsistência, ou seja, produzida pelos próprios moradores, na medida de suas necessidades de consumo. No plano dessas relações servis, havia diversos tipos de impostos que os servos tinham que pagar aos seus senhores, incluindo também os serviços que prestavam a eles. Desse modo, no manso senhorial - que eram as terras do feudo de uso do senhor e representavam um terço da área total - os servos tinham que trabalhar vários dias por semana, numa prática chamada de corvéia.

O feudalismo foi marcado pela divisão estamental da sociedade em três classes sociais básicas: O clero, a nobreza e os servos. A mentalidade da época classificava cada uma como uma parte do corpo humano. O clero seria a cabeça, responsável pela intelectualidade e orar; a nobreza seria os braços, responsável pela defesa; os servos seriam os pés, responsáveis pelo trabalho, fazer a sociedade "andar".

Representação de um clérigo, um nobre e um servo.

IMPOSTOS E TAXAS DO FEUDO:

No manso servil - que eram as terras pertencentes ao feudo, de uso dos camponeses, mas não de sua propriedade - parte do que era produzido ia para o senhor feudal. Essa taxa ficou conhecida como talha. Como os senhores feudais não deixavam escapar nenhuma oportunidade de cobrança de taxas ou impostos, os servos também pagavam a banalidade, um imposto pelo uso dos fornos e moinhos que o senhor controlava. Havia também um pagamento relativo ao número de servos que moravam nos feudos, e era cobrado individualmente, "por cabeça" (ou em latim per capita): era a capitação. Por fim, o imposto da mão morta é uma demonstração cabal de até onde podia chegar a exploração dos senhores feudais sobre os servos, pois, além de herdar a servidão dos pais, quando estes morriam, os filhos ainda deveriam pagar mais essa taxa, para continuarem servindo ao mesmo senhor. Mas não eram somente servos e senhores feudais que viviam em função dos feudos. Havia também homens livres e vilões (moradores de vilas, ou pequenas povoações). Estes eram pessoas pobres, que, para terem direito de plantar e colher em suas terras, trabalhavam também no manso senhorial, pagando ao senhor a corvéia.


Esquema da divisão de terras dentro do feudo (manso senhorial e servil), além de calendário para orientação do plantio e colheita.

SUSERANIA E VASSALAGEM:
Os vilões e homens livres contribuíam com um outro imposto, o censo, baseado no número de indivíduos que compunham essa população livre. A novidade do censo é que ele era o único pago em dinheiro, já que todos os outros tributos consistiam em serviços ou produtos agrários. Isso evidencia o quanto era pequena a circulação de moedas na Europa, durante esse período. Por fim, além do aspecto econômico dessas relações sociais, havia também práticas políticas e simbólicas dentro da sociedade medieval. Assim, os acordos entre os mais e os menos poderosos chamavam-se suserania e vassalagem. Dessa forma, os pobres tornavam-se vassalos dos senhores, que, por sua vez, eram chamados de suseranos. Essas relações de proteção e lealdade também ocorriam dentro da nobreza, quando um nobre mais pobre se tornava vassalo de um senhor mais rico e de maior prestígio. Havia vários ritos entre os nobres para celebrar esse pacto de fidelidade. No momento da assinatura do termo de doação de terras ou concessão de favores do suserano (senhor mais rico) ao vassalo (senhor mais pobre) um beijo entre os dois poderia selar o acordo, além de o vassalo ajoelhar-se perante o suserano.

Suseranos recebendo homenagens de vassalos.

Essas liturgias são mantidas em algumas atitudes da atualidade, principalmente no aspecto religioso. No cristianismo, por exemplo, o ato de se ajoelhar com as mãos juntas para a reza é herança da suserania e vassalagem. Entre cristãos orientais, o beijo no rosto ainda simboliza fidelidade entre cargos e negócios). Podia-se receber também a
investidura, que era um ramo de folhas ou outro objeto entregue pelo suserano ao vassalo. As investiduras funcionavam como símbolo das terras que a eles estavam sendo concedidas.

Exemplo da manutenção da homenagem oscular entre sacerdotes ortodoxos.

domingo, 8 de maio de 2011

Reino Franco.

Desde o final do século III, a historiografia registra ações de pirataria dos francos na costa do Mar do Norte, adentrando regiões da Gália romana. Incapaz de detê-los, vivendo um processo de enfraquecimento, o Império Romano havia estabelecido acordos com eles, admitindo-os dentro de seu território, chegando mesmo a conceder, a alguns chefes guerreiros francos, postos de comando no exército, como Merobaudo, ou Meroveu, que se tornou general do imperador Valentiniano.

A intensificação das invasões bárbaras e o conseqüente enfraquecimento definitivo do império abriram espaço para que todas as regiões da Gália fossem sendo ocupadas pelos francos. Coube a um chefe legendário, chamado Meroveu, impor-se sobre os demais chefes francos, estendendo sua hegemonia sobre toda a Gália.

Tal poder, entretanto, não foi aceito sem reação dos demais chefes. Foi somente o neto de Meroveu, chamado Clóvis, que conseguiu impor, no final do século 5, sua autoridade efetiva sobre todos os demais chefes, sendo reconhecido como o primeiro rei dos francos. Sua origem, enquanto neto de Meroveu, que teria dado início a esse processo de unificação, deu nome à dinastia por ele fundada, a mais antiga dinastia monárquica da França: a merovíngia.

CONVERSÃO DO CRISTIANISMO:

A unificação das terras ocupadas pelos francos sob o poder de Clóvis só foi obtida em função de um dado fundamental para que se compreenda a própria natureza do reino franco e sua importância ao longo da Idade Média. O povo franco, notadamente Clóvis, foi o primeiro entre os povos germânicos a compreender que seria impossível sua fixação nas regiões do antigo Império Romano sem o apoio - ou ao menos a aceitação - das populações nativas, majoritárias em termos numéricos. Para obter essa aceitação, Clóvis viu-se obrigado a compor politicamente com uma das poucas instituições remanescentes do império, a qual já detinha uma forte ascendência sobre grande parte de sua população: a Igreja Católica.

A mitologia cristã salienta um episódio no qual Clóvis teria tido um sonho, decisivo para sua conversão ao cristianismo. O que existe de fato é a certeza de que a conversão de Clóvis ao cristianismo, em 496, e a conseqüente aliança que ele estabeleceu com a Igreja, foi, essa sim, decisiva para a afirmação de sua autoridade. Foi a partir do apoio da Igreja e dos cristãos da Gália que Clóvis pôde derrotar os demais guerreiros francos, impondo-se como rei.

ORGANIZAÇÃO SOCIAL DOS POVOS GERMÂNICOS:

Entretanto, a partir daí, uma série de características dos povos germânicos foram decisivas para que a monarquia não conseguisse manter um mínimo de centralização efetiva ao longo das décadas seguintes. Mas para uma melhor compreensão dessa situação temos de, primeiramente, compreender a forma original de organização desses povos.

As sociedades germânicas haviam evoluído de uma estrutura tribal para a formação de agrupamentos guerreiros, centrados na figura de um chefe que comanda guerreiros livres, os quais se submetem por vontade própria à autoridade daquele que é reconhecido como o indivíduo com maiores condições de comandá-los. Sendo fundamentalmente guerreiros, seus vínculos eram basicamente militares.

Não conhecendo uma estrutura institucional de Estado, esses vínculos assumiam um caráter estritamente pessoal, forjado em juramentos de fidelidade e obediência por parte dos guerreiros, em troca da proteção que lhes era concedida pelo chefe. Essa forma de organização chamava-se comitatus, ou grupo de guerra, e teve importante influência na formação da sociedade feudal.

A necessidade militar, ligada às conquistas que fazem parte do processo de destruição do Império Romano, levou a um processo de organização desses agrupamentos guerreiros. Longe de um Estado, tal como é concebido atualmente, o que se formou, de um modo geral, foi uma autoridade central, fundamentalmente militar, caracterizando um poder que, em termos genéricos, chamamos de "monárquico". Entretanto, esse poder real era exercido com fortes limitações, submetido ao prestígio pessoal do monarca e à Assembléia de Guerreiros, detentora, em última análise, do poder efetivo.

A manutenção desse princípio pessoal de relacionamento faz com que o vínculo entre o rei e os chefes guerreiros mantenha as mesmas características herdadas do comitatus. Os guerreiros submetem-se ao rei pelos mesmos juramentos de fidelidade e obediência, enquanto o rei se obriga a garantir proteção e comando militar.

BASES DA NOBREZA FEUDAL:

Esses traços mesclam-se a um aspecto econômico comum aos vários povos germânicos: o fato de terem na agricultura sua atividade básica, sendo o comércio praticamente desprezível. Assim, a questão militar assumiu um papel de sobrevivência cotidiana, ligada à defesa da terra geradora do alimento do qual eles necessitavam.

Mais que isso, os chefes guerreiros, num processo de conquista, assumiam uma condição de conquistadores da própria possibilidade de sobrevivência, o que colocava as massas de trabalhadores não guerreiros sob sua direta dependência. Com isso, criou-se uma situação na qual a posse da terra articulou-se necessariamente à capacidade de defendê-la, relegando a massa de não guerreiros à condição de trabalhadores braçais, produtores do alimento em troca da terra e da proteção recebida.

Essa relação gerou uma nítida diferenciação social, entre aqueles que trabalham e aqueles que guerreiam, constituindo estes últimos uma elite social e econômica, detentores da terra e do que havia de força militar. Estavam lançadas as bases para a constituição da nobreza feudal.

DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICA:

Por outro lado, as relações entre esses guerreiros e as autoridades superiores também se fundaram nessas mesmas necessidades e princípios. Considerando-se o rei como autoridade militar suprema, sua condição, em última análise, é a de detentor de todas as terras. Para efetivar a defesa, ele concedia a outros chefes guerreiros o comando de parte dessas terras, além da proteção, mas exigindo, em troca, um juramento de fidelidade, obediência e serviço militar às necessidades do rei.

Exemplo de juramento de fidelidade entre nobres (suserania e vassalagem)


Supondo-se que esse juramento inclua, apenas como um exemplo, que este chefe militar apresente-se ao rei com o auxílio de um determinado grupo de guerreiros armados, ele terá de ter esses guerreiros submissos a ele, da mesma forma que ele é submisso ao rei. Daí a necessidade de ceder-lhes parte de suas terras - e assim sucessivamente.

Com isso, criou-se uma estrutura de verticalização das relações políticas e militares. No topo da hierarquia encontra-se o rei, vinculado a chefes guerreiros, os quais se vinculam a outros e assim por diante, num processo cujo efeito final é o estabelecimento de inúmeros domínios pessoais sempre submetidos a uma autoridade superior.

Foram esses vínculos que deram origem às relações de suserania e vassalagem, base fundamental das relações entre a nobreza medieval. O próprio Clóvis dividiu o reino em províncias às quais ele o deu nome de condados, nomeando nobres guerreiros, condes, para administrá-las. Com isso, verificou-se uma tendência à descentralização política, tendência essa que se acentuou nas décadas seguintes.

Outro aspecto a ser considerado é que, com base no velho costume, segundo o qual o rei é o detentor de todas as terras, o reino passava a ser considerado um bem pessoal, passível de herança como qualquer outro bem. Assim, era natural que o rei dividisse seus domínios entre seus filhos, quando se aproximava da morte.

OS MAJOR DOMUS E AS INVASÕES ISLÂMICAS:

O hábito franco de que o herdeiro fosse coroado aos 12 anos de idade, portanto ainda inexperiente para governar, levou ao surgimento dos Administradores do Palácio, ou Prefeitos do Palácio, os Maires du Palais, uma espécie de primeiro-ministro, oriundos de ricas famílias aristocráticas e homens fortes do poder real. Esse título, já num momento posterior, em que a herança da influência romana voltou a ser forte, passou a ser conhecido em sua forma latina: major domus.

Dessa forma, tendo seu poder esvaziado pela dispersão entre os chefes locais e pela autoridade crescente dos major domus, o poder do rei tendeu a se tornar meramente decorativo, tanto que os últimos reis merovíngios ficaram conhecidos pela designação de reis indolentes. Seu poder era meramente formal, como chefe militar supremo, condição que numa época de paz não lhe granjeava qualquer autoridade efetiva.

Ao mesmo tempo, ao manter vínculos com a nobreza guerreira, coletar tributos e controlar o pouco que havia de administração do reino, o major domus passava a ser a autoridade efetiva. Tal situação atingiu seu ponto mais agudo nas primeiras décadas do século 8, tendo como elemento impulsionador a invasão árabe sobre o território franco.

Como sabemos, impulsionados pela religião islâmica, os árabes haviam iniciado, desde o século 7, um amplo processo de conquistas. Contando com a decadência dos impérios Persa e Bizantino, e com a fragilidade dos reinos bárbaros - descentralizados no sul da Itália, no norte da África e na península Ibérica -, os muçulmanos conseguiram, num intervalo de um século após a morte de Maomé, conquistar um gigantesco domínio, que culminou com a conquista da península Ibérica, em 711.

Batalha de Poitiers - 732

A partir daí, o alvo inevitável seria o reino Franco, situado logo a norte. A liderança dos exércitos francos contra os árabes coube, no entanto, não ao rei, mas sim ao major domus Carlos Martel, que derrotara os islâmicos em 732, na cidade de Poitiers. Essa vitória garantiu enorme prestígio a Carlos, que garantiu a hereditariedade do cargo de Prefeito do Palácio. Seu filho, Pepino 'O Breve', consegue concentrar todos os poderes do reino e destrona a dinastia merovíngia, coroando-se rei e iniciando a dinastia carolíngia (de Carlos). Além do fim dos merovíngios, a batalha de Poitiers foi responsável pela preservação do cristianismo europeu, evitando assim a expansão muçulmana para o ocidente.

Pepino - O Breve


Além de Pepino, o rei mais importante da dinastia carolíngia foi Carlos Magno. Durante seu reinado, o Império Franco atingiu sua maior extensão territorial, convertendo diversos povos bárbaros ao cristianismo. Com isso, no ano 800, foi coroado pelo papa Leão III Imperador do Sacro Império Romano, garantindo assim poder temporal sobre todos os povos do ocidente, comparando seu poder político e militar aos velhos césares romanos.

Carlos Magno se apresentando ao Papa Leão III e estátua em sua homenagem.

Carlos Magno também foi responsável pelo chamado "Renascimento Carolíngio", incentivando a criação de escolas para as famílias da nobreza européia, além de produção e conservação de obras diversas, desde o classicismo até às hagiografias sagradas.

Busto dourado de Carlos Magno. Representação de escola medieval.

O Império Franco entrou em declínio com a morte de Carlos Magno (814). Seus netos dividiram o império em três com o Tratado de Verdun em 843. Iniciando os territórios que hoje como França e Alemanha.

Divisão Franca pelo Tratado de Verdun.

domingo, 1 de maio de 2011

Expansão árabe.

No ano de 630, Maomé e seus seguidores ocuparam a cidade de Meca, retornando do exílio da Hégira em Medina, destruíram os ídolos da Caaba, símbolos do politeísmo, e assim fundou-se o Islão - Estado Teocrático dos Crentes, unificando as tribos nômades que habitavam a península arábica. Esse fato é considerado como a unificação política e religiosa dos povos árabes, agora comandados pelo Califa (substituto, chefe, líder, em árabe).

Avanços árabes, destaque para as incursões maometanas e dos rashidun.


O Expansionismo árabe iniciou-se logo após a morte de Maomé, em 632, tanto em direção ao oriente como ao ocidente. Os primeiros quatro sucessores do profeta ficaram conhecidos como "Rashidun", ou "califas bem guiados", iniciando com o governo do sogro de Mohammed, Abu Bakr. Os Rashidun expandiram os domínios árabes até o norte da África, especificamente até o território da atual Líbia, além de várias ilhas do Mediterrâneo. Um dos maiores monumentos do período dos "bem guiados" é a Mesquita de Omar em Jerusalém, símbolo do expansionismo na Palestina.

Domínios conquistados pelos rashidun.


Mesquita de Omar (segundo rashidun), ou Domo da Rocha, em Jerusalém.

As conquistas islâmicas se ampliaram sob os califas Omíadas (661 - 750) e foram preservadas pelos Abássidas (750 - 1258), apesar das diversas divisões políticas, iniciadas com a fundação do Emirado de Córdoba, na Espanha (chamada de Al-Andaluz pelos árabes) em 756.
O processo expansionista foi fulminante, estimulado por interesses em dominar rotas de comércio, pela cultura do botim (saques, espólios, de guerra), pela Jihad ("Guerra Santa") e também pela fraqueza dos adversários: O império Persa que desapareceu, O império Bizantino, que foi reduzido, perdendo seus territórios na Palestina e norte da África, e os Reinos Bárbaros da região do Magreb e da Península Ibérica, que foram derrotados. Na Europa, o expansionismo muçulmano na Europa foi contido pelos Francos, na famosa Batalha de Poitiers em 732, liderada pelo Major Domus Carlos Martel, durante a dinastia Merovíngia.

Durante a Dinastia dos Abássidas o comércio árabe atingiu grande extensão, destacando-se o comércio de especiarias com as Índias, as várias rotas de contato com Constantinopla e as várias rotas do norte africano pelo interior, realizado por caravanas, que traziam ouro para a cidade de Ceuta, objeto de interesse português no século XV.

Extensão máxima do Império Árabe.

Apesar da centralização política e religiosa, a história do império árabe caracterizou-se por várias disputas pelo poder e consequentemente por divisões, de onde inclusive nasceram as duas seitas mais importantes do Islamismo: sunitas (os que seguem, além do alcorão, o conjunto de obras sobre a vida pessoal de Maomé chamado Sunnas) e xiitas
(os que aceitam apenas o Alcorão como livro sagrado do islamismo, além de só aceitarem líderes, governantes, que possuam laços sanguíneos com Mohammed).

O domínio mourisco na Península Ibérica influenciou consideravelmente a cultura daquela região, refletindo-se, inclusive, nos países que foram colônias luso-espanholas. Muitas palavras dos idiomas ibéricos são resultado de termos arabescos, como álcool, azeite, almoço etc. Praticamente todas as palavras que iniciam com "a" ou "al" são heranças árabes, assim como alguns hábitos alimentares e certas festividades.


COMPLEMENTE COM ESSE VÍDEO DA FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO:

PARTE 1:


PARTE 2:

domingo, 24 de abril de 2011

Árabes e o islamismo.

Os árabes são um povo que se desenvolveu na península Arábica, uma vasta região localizada na junção dos continentes africano e asiático. Ao longo da Idade Média, porém, os árabes se expandiram e formaram um grande império. Sua cultura, que tem como principal característica a crença no islamismo, foi então assimilada por diversos outros povos. Vamos acompanhar o desenvolvimento dessa história para compreender porque se pode falar, hoje, na existência de um "mundo árabe".

A península Arábica pode ser dividida, mais ou menos, em duas áreas geográficas: a sudoeste encontra-se uma região montanhosa e fértil, irrigada por vários riachos, com bons índices de pluviosidade e banhada pelo mar Vermelho. O restante do território é formado por desertos, onde existem oásis esparsos. É esse o cenário onde os árabes surgiram e se desenvolveram há milênios.

Até meados do século VII, esse povo não se organizava em um Estado centralizado, mas se dividia em dezenas de tribos independentes. Cada uma delas, era composta por clãs (grandes famílias) unidos em torno de um líder (o sheik), escolhido por seus membros. Cada tribo tinha o seu próprio deus e o seu próprio código de ética. Para os árabes, a tribo vinha em primeiro lugar: qualquer ameaça a qualquer um de seus integrantes eram considerada uma ameaça coletiva. Cada membro da tribo tinha a obrigação de cuidar dos outros. Não existia espaço para o individualismo.

A maior parte da população árabe era formada pelos beduínos, pastores e comerciantes nômades que viviam no deserto. Essas tribos em especial, devido à grande dificuldade de sobrevivência numa região inóspita, se enfrentavam constantemente, travando lutas intermináveis pelo controle dos oásis e praticando as razias, ou seja, os saques às outras tribos.

Já os grupos tribais que se estabeleceram na região fértil do sudoeste puderam desenvolver a agricultura, tornaram-se sedentarios e fundaram cidades. No final do século VI, cidade de Meca (na atual Arábia Saudita) se tornou a mais importante delas. Era controlada pela tribo dos coraixitas, que desenvolveram um rico comércio. Além disso, Meca era também um centro de peregrinação religiosa, pois ali se encontrava a Caaba, o mais importante dos templos árabes. Esse templo, em formato de cubo, na época, abrigava os ídolos das várias tribos, em especial a "Pedra Preta", considerada como um presente divino caído dos céus, provavelmente algum fragmento de meteorito.

Caaba

Segundo a tradição, foi construído por Abraão e seu filho Ismael num tempo muito remoto, o que demonstra ser única a origem de árabes e judeus, sendo ambos os povos semitas. Na Caaba era proibido qualquer tipo de hostilidade, o que beneficiava as atividades mercantis, características dos árabes em geral. Tanto os beduínos do deserto quanto os que viviam nas cidades desenvolveram um intenso comércio com as regiões vizinhas: os povos do litoral africano, os persas, os bizantinos e os judeus. Em cada cidade árabe, era comum existir pequenas comunidades de estrangeiros que viviam do comércio internacional.

Mesquita de Meca com a Caaba ao centro, principal ponto de peregrinação do islamismo.


MAOMÉ E O ISLÃ:

Maomé (Muhammad ibn Abdallah) nasceu em Meca, em torno de 570 d.C.. Era membro da tribo dos coraixitas, mas fazia parte de uma família empobrecida, os haxemitas. Tornou-se comerciante e, desde pequeno, conviveu com pessoas de diversas culturas. A tradição diz que somente ao se casar com uma viúva muito rica (Khadija), Maomé pôde ter um conforto material. A partir de então, passou a se retirar para as regiões montanhosas a fim de meditar sobre as diversas culturas e religiões que conhecia. Conta-se que sempre teve um espírito inquieto, era um grande observador, além de questionador.

Em 610, num retiro no Monte Hira, Maomé acordou no meio da noite sentindo uma presença arrebatadora: na sua frente viu um anjo (que mais tarde se identificou como o arcanjo Gabriel) que lhe ordenava: “Recita!”. Maomé pensou que estivesse enlouquecendo. Tentou se livrar daquela presença, mas, para todos os lados que corria, deparava com o anjo dizendo: “Recita!”. Porém, ele não compreendia a ordem do anjo, pois não era um recitador (um tipo comum de adivinho no mundo árabe da época).

Monte Hira, onde supostamente Maomé recebeu as "revelações" do arcanjo Gabriel.

O anjo, então, o abraçou fortemente, de modo que o homem sentiu o ar sumir de seus pulmões. Mesmo assim, Maomé resistiu a mais dois abraços. Depois do terceiro, Maomé, embora sem fôlego, abriu seus lábios e começou a falar de coisas sobrenaturais das quais jamais teve consciência. Dessa forma surgiram as primeiras palavras divinas na língua árabe (que se tornou uma língua sagrada, assim como o latim para os católicos ou o hebraico para os judeus):

“Recita em nome do teu Senhor que criou;
Criou o homem de um coágulo.
Recita que teu Senhor é Generosíssimo,
Que ensinou através do cálamo,
Ensinou ao homem o que este não sabia!”



Maomé e o anjo Gabriel

A partir dessa ocasião, Maomé passou a comunicar-se com o arcanjo Gabriel e, numa espécie de transe, recitava as palavras divinas para os membros de sua família, que as interpretavam como se Alá (Al-Lá: “o Deus”) estivesse falando através dele. As palavras ditas por Maomé eram poéticas, de uma beleza tão envolvente, de uma verdade tão contundente, que ele passou a ser considerado um profeta e a ter muitos seguidores seguidores.

Por mais de três anos, Maomé relutou em defender a crença no Deus único, que o arcanjo Gabriel lhe impunha, pois sabia que as tribos não aceitariam um poder que fosse maior e que pudesse agir além de suas próprias condutas religiosas e éticas. Mas, a cada aparição, o arcanjo era mais enfático: era necessário defender e propagar a crença monoteísta entre os árabes.

Alcorão

Dessa forma surgiu, segundo a tradição, uma nova religião que se chamou Islã (ou islamismo), que em português significa “submissão”. O seguidor do Islã se chama muslin (ou muçulmano), “fiel, crente”. Maomé passou a ser considerado o “selo dos profetas”, ou seja, o que veio depois de todos os profetas judeus e cristãos (Cristo é visto como um profeta pelos muçulmanos), para finalizar a revelação divina.

Enquanto Maomé recitava as palavras de Alá, alguns poucos ouvintes alfabetizados as escreviam. Daí surgiu o livro sagrado do Islã, o Al – qurãn (Corão ou Alcorão), que quer dizer “A Recitação”. (O livro sagrado é considerado de tamanha beleza poética que somente os que compreendem a língua árabe podem perceber seu encantamento e poder de persuasão).

Maomé recitando as suratas do Alcorão para seguidores (pintura anterior ao movimento radical de omissão da face do profeta).

A HÉGIRA E A FORMAÇÃO DO ESTADO ÁRABE:
A partir do momento em que Maomé enfatizou o caráter monoteísta de sua religião e a necessidade de os muçulmanos divulgarem as palavras divinas, os coraixitas (elite dominante de Meca) passaram a perseguir Maomé e seus fieis, pois não viam com bons olhos a crença no Deus único do islamismo. Temiam a diminuição das peregrinações religiosas a Meca, assim como dos lucros comerciais que elas proporcionavam.

Em 622 d.C., Maomé recebeu um convite dos habitantes de Yatrib, cidade que ficava a 10 dias de viagem a pé de Meca. Lá duas tribos rivais (aws e khazraj) viviam em conflito há muito tempo, o que as estava destruindo. As duas decidiram pedir orientação a Maomé, que para lá se dirigiu, pacificando-as. Esse episódio é conhecido como Hégira (“emigração”, “fuga”), e marca o início do calendário muçulmano. Em Yatrib, Maomé organizou a primeira grande comunidade islâmica, e a cidade passou a se chamar Madinat al Nabî (ou Medina “cidade do profeta”).

Desse momento em diante, os muçulmanos de Medina tiveram que enfrentar os ataques de diversas tribos politeístas. Uma série de batalhas se sucedeu e várias tribos foram conquistadas e convertidas ao Islã, embora muitas outras tribos tenham se convertido por vontade própria à nova religião. Em 630, Maomé, a frente de um poderoso contingente militar, conseguiu tomar Meca, pondo fim às guerras intertribais e instaurando o Estado Teocrático Árabe, do qual se tornou o líder político e religioso. O profeta, com suas próprias mãos, destruiu todos os ídolos tribais da Caaba, transformando-a no mais importante templo do Islã. Essa série de conflitos causados pela disputa de credos, politeístas X monoteístas, infiéis X muçulmanos, é interpretado como o princípio da doutrina da Jihad (traduzida tradicionalmente como "guerra santa", devido o terrorismo fundamentalista árabe contemporâneo, mas também confundido com as antigas cruzadas cristãs medievais).

Manifestação árabe contemporânea de apologia a Jihad

Para não entrar em atrito com as tradições específicas das diversas tribos, Maomé permitiu que continuassem a segui-las, desde que se comprometessem a cumprir as cinco obrigações do islamismo, o que acabou por unificar todas as tribos em nome de Alá. Assim formou-se a Ummah (Comunidade Muçulmana), o que de certa forma, manteve o principio cultural das tribos árabes: a ummah era mais importante do qualquer indivíduo, todos eram responsáveis uns pelos outros e qualquer um que se colocasse contra as palavras do profeta era considerado um criminoso.

AS CINCO OBRIGAÇÕES ISLÂMICAS:
1) crer em Alá como deus único e em Maomé como seu último profeta;
2) orar cinco vezes ao dia com a cabeça voltada em direção a Meca;
3) dar esmolas;
4) jejuar no Ramadã (nono mês do calendário islâmico);
5) toda pessoa saudável deve visitar a Caaba (em Meca) pelo menos uma vez na vida.


COMPLEMENTE COM ESSE DOCUMENTÁRIO SOBRE O ISLÃ:


PARTE 1:


PARTE 2:


PARTE 3:


PARTE 4:


PARTE 5:

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Império Bizantino

O Império Bizantino, inicialmente conhecido como Império Romano do Oriente, sucedeu o Império Romano (cerca de 395) como o império dominante do Mar Mediterrâneo.

Divisão do Império Romano em Ocidente e Oriente.

Sob Justiniano, considerado o último grande imperador romano, dominava áreas no atual Marrocos, Cartago, sul da França e da Itália, bem como suas ilhas, Península Balcânica, Anatólia, Egito, Oriente Próximo e a Península da Criméia, no Mar Negro.

Sob a perspectiva ocidental, não é errado inserir o Império Bizantino no estudo da Idade Média, mas, a rigor, ele viveu uma extensão da Idade Antiga. Os historiadores especializados em Bizâncio em geral concordam que seu apogeu se deu com Justiniano, mas o imperador da dinastia Macedônica, Basílio II "Bulgaroctonos" (Mata-Búlgaros), também contribuiu para o crescimento do império, entre os séculos IX e X. A sua regressão territorial gradual delineou a história da Europa medieval, e sua queda, em 1453, frente aos turcos otomanos, marcou o fim da Idade Média.
Afresco do imperador Basílio II (mata-búlgaros). Recebeu tal alcunha devido o cruel contra-ataque contra os búlgaros. Todos os sobreviventes retornaram cegos, gerando gastos ao reino inimigo.

ORIGEM

O embrião do Império Bizantino surgiu quando o imperador romano Constantino decidiu construir sobre a antiga cidade grega de Bizâncio uma nova capital para o Império Romano, mais próxima às rotas comerciais que ligavam o Mar Mediterrâneo ao Mar Negro, e a Europa à Ásia. Além disso, havia muito os imperadores de Roma já não mais usavam esta cidade como capital, por ser muito distante das fronteiras.

Em geral, eles tendiam a escolher Milão, mas as fronteiras que estavam em perigo na época de Constantino eram as da Pérsia ao Leste a as do Danúbio ao norte, muito mais próximas da região dos estreitos. A nova capital, batizada de Constantinopla, unia a organização urbana de Roma à arquitetura e arte gregas, com claras influências orientais. É uma cidade estrategicamente muito bem localizada, e sua resistência a dezenas de cercos prova a boa escolha de Constantino.

Em pouco tempo, a cidade renovada tornar-se-ia uma das mais movimentadas e cosmopolitas de sua época. Sua religião, língua e cultura eram essencialmente gregas, e não romanas, mas para os bizantinos a palavra grego significava, de maneira injuriosa, pagão.

Os persas e os árabes também chamavam os bizantinos de romanos. A palavra bizantino vem de Bizâncio, o antigo nome da capital bizantina, Constantinopla, ou Nova Roma. Este termo bizantino começou a ser utilizado somente depois do século XVII, quando os historiadores o criaram para fazer uma distinção entre o império da Idade Média e o da Antiguidade.
Extensão máxima do Império (século VI)

EVOLUÇÃO

Nos séculos III, IV e V, o Império Romano viveu uma desastrosa crise em suas estruturas. Nesse período, ocorreu um notável processo de concentração de terras no Oriente, em que os pequenos proprietários confiavam seus lotes à proteção de latifundiários, muitos dos quais, em função do prestígio, passavam a ocupar importantes cargos do governo.

Já se destacava a estabilidade do Império no Oriente, o que levou Constantino a ordenar, em 324, a construção de uma nova cidade no lado europeu do Bósforo. A cidade foi erguida no local da antiga Bizâncio, colônia fundada por gregos de Mégara em 657 a.C. Consagrada à Virgem Maria, foi inaugurada com o nome de Constantinopla, em 330.

Constantinopla tinha uma posição privilegiada. Entre os mares de Mármara, Negro e Egeu, constituiu, ao longo de sua história, um verdadeiro entreposto comercial entre o Ocidente e o Oriente.

Nesse período, os imperadores buscaram combater o helenismo, predominando as instituições latinas. O latim também foi mantido como língua oficial.

De 395 a 457, estendeu-se a dinastia Teodosiana, cujo primeiro imperador foi Arcádio, responsável pela expulsão dos visigodos no final do século IV. Destacou-se também o cerco de Átila, o Huno, afastado, em 443, por meio do pagamento de um resgate de seis mil libras de ouro.

De 457 a 518, estendeu-se a dinastia Leonina, na qual destacou-se, em 488, o acordo de combate aos hérulos levado a efeito entre o imperador Zenão e o rei dos ostrogodos, Teodorico.

A mais importante dinastia latina foi a Justiniana (518-610). Nela, o imperador Justiniano (527-565) buscou restaurar e dispor sob sua inteira autoridade a vastidão típica do Império dos Antoninos (96-192). Em 534, sob o comando do general Belisário, o exército de Justiniano conquistou o Reino dos Vândalos. Em 554, na Itália, o Império abraçava também o Reino dos Ostrogodos.
Mosaico representando Justiniano e sua cúpula militar e religiosa (alegoria cesaropapista)
Mosaico de Justiniano com idade mais avançada.
Para a posteridade, porém, o maior legado desse período foi o Corpus Juris Civili, base, ainda hoje, da maioria dos códigos legislativos do mundo. Inseriu noções cristãs de convivência nas leis.

O Corpus Juris Civili era dividido em quatro partes: o Código Justiniano - compilação de todas as leis romanas desde Adriano (117-138) -, o Digesto ou Pandectas - reunião de trabalhos de jurisprudência de grandes juristas -, as Institutas - espécie de manual que facilitava o uso do Código ou do Digesto -, e as Novelas ou Autênticas - novas leis decretadas por Justiniano e seus sucessores.

Justiniano ordenou também a construção da Basílica de Santa Sofia (Hagia Sophia), com estilo arquitetônico próprio, o qual convencionou-se chamar de estilo bizantino, destacando gigantesco domo central, inovação arquitetônica do período. Santa Sofia é considerada o maior templo cristão até a Renascença (séculos XV-XVI). Com o domínio otomano foi transformada em mesquita. Hoje é um museu mantido pela UNESCO, devido, principalmente, ao sincretismo cristão, muçulmano e oriental dos seus adornos.
Basílica de Hagia Sophia, reparem nos quatro "minaretes" muçulmanos, frutos do domínio turco.
No século VI, para combater a heresia do nestorianismo, o Patriarca de Alexandria, Dióscoro, desenvolveu o monofisismo (doutrina que considera Cristo como unicamente divino, não humano), formulação teológica também condenada pela Igreja Católica e muito ligada a ideais de emancipação política no Egito e na Síria.

Desencadearam-se então movimentos de perseguição aos monofisistas, protegidos, no entanto, pela esposa de Justiniano, a atriz Teodora. Buscando manter a unidade do Império, Justiniano desenvolveu a heresia do monotelismo, uma tentativa de conciliação entre o monofisismo e o nestorianismo.

O cesaropapismo de Justiniano, que inclusive muito marcou o Império Bizantino, gerava distúrbios na ordem e insatisfação da população, já indignada com a cobrança abusiva de impostos. Em 532, estourava a Revolta de Nika, sufocada completamente pelo general Belisário após oito dias, executando cerca de 35 mil envolvidos.

Justiniano ainda se viu às voltas com terremotos, fome e a grande peste de 544. Após sua morte, os lombardos, até então estabelecidos na Panônia como aliados, invadiram, em 568, a Itália setentrional. Os bizantinos mantiveram ainda o Exarcado de Ravena, os ducados de Roma e Nápoles, a Ístria, a Itália Meridional e a Sicília.

Os Justinianos ainda enfrentaram as investidas do Império Persa Sassânida, no Oriente, e dos ávaros, no norte. Para tanto, deixaram para segundo plano a proteção dos territórios conquistados na Espanha, no norte da África e na Itália, o que facilitou a posterior fixação, nestas regiões, dos maometanos e dos Estados da Igreja.

O CISMA CRISTÃO:
A separação entre a Igreja católica de Roma e a Igreja católica do Oriente, que abrangia Constantinopla, Grécia e Ásia Menor ocorreu em 1054. Discordando da adoração de imagens de santos e figuras divinas (a Iconoclastia), a ala oriental da Igreja Católica fundou uma nova prática cristã com a Igreja Católica Ortodoxa Grega, ou Igreja Católica Apostólica Ortodoxa. Essa é uma religião existente até hoje, com algumas crenças e rituais diferentes da Igreja Católica Romana, com presença marcante na Europa Oriental (ex-URSS), Grécia e Ásia, mas com alguns templos direcionados a imigrantes dessas regiões no Ocidente.

Catedral Ortodoxa em São Paulo, muito visitada por imigrantes turcos, gregos, armênios, russos e ucranianos.
Assim, ao irem se definindo as crenças e práticas que os cristãos deveriam obedecer, a Igreja romana passou a perseguir os que não compartilhavam dessa postura. A tentativa de controlar as mentes das populações sob seu domínio, aumentando seu poder de influência e sua riqueza, fez com que a Igreja Católica usasse de todos os meios para se impor.

Um desses meios foi a própria doutrinação religiosa. Como as pessoas eram proibidas de terem outras religiões que não a católica, freqüentar os cultos nas igrejas e praticar os ritos católicos eram as únicas manifestações culturais permitidas. As igrejas, como templos de Deus, funcionavam como um meio das pessoas serem instruídas na fé e temerem a ira divina sobre aqueles que pecavam, abrindo caminho para os "crimes" de heresia e as punições da Inquisição medieval (século XII).

CRISE E FIM DO IMPÉRIO:
No início do século XV, o governo de Constantinopla não conseguiu reagir aos ataques turco-otomanos. Em 1453 a capital foi tomada pelos árabes, desestruturando toda a antiga organização bizantina. O Império Turco-Otomano controlou o território até o século XIX. Atualmente a antiga cidade de Bizâncio/Constantinopla recebe o nome de Istambul, o mais rico centro urbano da Turquia, ainda de grande importância pela sua posição estratégica entre o Ocidente (Europa) e Oriente (Ásia).

COMPLEMENTE O ESTUDO COM ESSE DOCUMENTÁRIO DO HISTORY CHANNEL:

PARTE 1:


PARTE 2:


PARTE 3:


PARTE 4:


PARTE 5: