domingo, 27 de novembro de 2011

O fim da URSS.

FRACASSO DO PLANEJAMENTO:
Na União Soviética, partir da década de 1970, o planejamento econômico, pilar do regime socialista (por oposição ao livre-mercado) começou a dar sinais de esgotamento. O controle rígido da economia pela burocracia estatal gerou estagnação em vez de crescimento. O Estado determinava o que e quanto produzir, onde comprar matérias-primas, qual o preço das mercadorias e o salário dos trabalhadores.

Os burocratas do partido só se preocupavam em cumprir as metas estabelecidas. A falta de concorrência levava ao desinteresse por um aprimoramento da qualidade dos produtos, bem como não havia motivo para oferecer à população uma grande variedade de bens de consumo - considerados luxos burgueses. Os grandes investimentos se destinavam à indústria bélica, para fazer frente aos Estados Unidos.

Aos poucos, o desabastecimento até de mercadorias de primeira necessidade tornou-se a regra da economia soviética. Ficaram mundialmente famosas as longas filas e os cartões de racionamento para a compra de pão ou leite. Paralelamente, desenvolveu-se um mercado negro e a corrupção começou a se generalizar no governo do país, cujas lideranças gozavam de privilégios e mordomias.

PERESTROIKA E GLASNOST:

Gorbatchev, criador da Glasnost e da Perestroika.

Nesse pano de fundo, em 1985, subiu ao poder Mikhail Gorbatchev, aos 54 anos de idade. Tratava-se de um governante muito jovem pelos padrões da burocracia soviética. Tratava-se também de um político que via necessidades de reformas para evitar o colapso de seu país.

Gorbatchev procurou promover uma reestruturação ("perestroika", em russo) da economia, desmilitarizando-a e descentralizando-a. Introduziu elementos da economia de mercado na União Soviética, abrindo-a ao capital estrangeiro, promovendo privatizações e fechando empresas deficitárias. Nesse sentido, talvez tentasse repetir a Nova Política Econômica (NEP), com que Lênin, nos anos 1920, reintroduziu elementos capitalistas na economia soviética para preservar o regime.

Ao contrário de seu ilustre antecessor, Gorbatchev promoveu simultaneamente uma abertura política, a que chamou de "glasnost" (transparência, em português). Com ela, restabeleceu-se o pluripartidarismo, aboliu-se a censura, e libertaram-se presos políticos, além de se incentivar a liberalização dos regimes dos países do Leste Europeu, onde a economia planejada também fracassava e a insatisfação popular aumentava dia a dia. Países como Tchecoslováquia, Alemanha Oriental e Romênia aproveitaram tal liberalização para saírem do jugo comunista.

Jovens alemães iniciam a depredação do Muro de Berlim, comemorando a reunificação da Alemanha, enquanto soldados do lado comunista observam, passivamente, as manifestações.

No entanto, as medidas não foram suficientes para reverter a crise econômica do país e Gorbatchev começou a perder popularidade. Aproveitando-se disso, antigas lideranças do Partido Comunista aliados a chefes militares tentaram dar um golpe de Estado em agosto de 1991.

Tanques contra o Kremlim, a tentativa de golpe dos comunistas tradicionalistas contra Gorbatchev.

YELTSIN E RESISTÊNCIA:

Boris Yeltsin, presidente da República Socialista Russa, depois Federação Russa, líder da resistência contra o golpe dos comunistas.

Foi justamente Boris Yeltsin quem assumiu a liderança da população contra o golpe, entrincheirando-se no Parlamento soviético e mostrando-se determinado a resistir da maneira que fosse necessária. Diante dessa inesperada reação popular, os golpistas acabaram por libertar Gorbatchev que retomou o comando da União. Yeltsin, por sua vez, foi eleito presidente da Rússia, a principal das repúblicas soviéticas.

Em momentos de ruptura, o ritmo dos acontecimentos históricos se aceleram: em setembro de 91, a Lituânia, a Estônia e a Letônia se proclamaram independentes da União Soviética. Em dezembro do mesmo ano, a Rússia, a Ucrânia e a Bielo-Rússia (atual Belarus) se reuniram numa Comunidade de Estados Independentes (CEI). Diante disso, na prática a União Soviética não existia mais. Gorbatchev renunciou e declarou a extinção da URSS no último dia do ano.

PRESIDÊNCIA DE YELTSIN:
Yeltsin conseguiu manter-se à frente do governo russo até 1999, mas sua gestão destruiu a imagem heróica de estadista que adquirira com os acontecimentos que puseram fim a URSS. Exerceu o poder de maneira autoritária e populista, não conseguindo resolver os problemas da Rússia: pelo contrário, o país mergulhou no caos econômico e o crime organizado se desenvolveu intensamente.

Enfraquecido no plano político e com a saúde abalada (também devido aos seus excessos alcoólicos que se tornaram notórios), Yeltsin renunciou em 31 de dezembro de 1999, nomeando para seu lugar Vladimir Putin, que governa a Rússia autocraticamente até hoje. Com a garantia de que não seria processado por seus desmandos, o líder da resistência de 1991, desapareceu de cena para entrar na história.


*Adaptação do texto do jornalista Antônio Carlos Olivieri.